São Gregório Palamas

A importância da Oração 

Hoje, no Segundo Domingo da Grande Quaresma, celebramos a memória de São Gregório Palamas, Arcebispo de Salónica, que viveu no século XIV.

Ele é conhecido por sua defesa do Hesycasmo, a compreensão dos monges Athonitas  sobre a oração e também por sua  defesa apologética da fé ortodoxa contra os ataques dos teólogos ocidentais que foram influenciados pela escolástica. 

A maioria de nós, vivendo no mundo , sabemos muito pouco sobre a polêmica Hesicasta, as obras de São Gregório, ou sobre a prática de Hesicasmo.

E isso ocorre não porque a teologia ortodoxa e sua práxis sejam de alguma forma mais complicadas do que outras áreas do conhecimento e experiência humana.

Muitas vezes nos desenvolvemos com excelência na aprendizagem de matérias altamente complexas, dominando habilidades sofisticadas, nos  tornando especialistas em nossa área de trabalho ou estudar.

No entanto, quando se trata de oração, muitos são os cristãos que dedicam muito pouco tempo e esforço para aprender sobre ele e praticá-la.

Não é de surpreender, portanto, que entre a multidão de especialistas( nos mais variados assuntos) que freqüentam nossas igrejas, poucos são aqueles que são especialistas na oração. 

Muitas vezes pensamos na oração como uma compilação de fórmulas que devem ser pronunciadas ou tarefas que devem ser cumpridas: como algumas orações da manhã, outras à noite, e aquelas próprias para  antes da comunhão.

O desenvolvimento destes exercícios raramente são muito elevados,e normalmente as pessoas fazem as orações e assim mantém suas consciências tranquilas : "Tenho cumprido minha obrigação todas as manhãs ou "eu cumpri a minha obrigação pré comunhão " e assim sentem-se melhor sobre si mesmos.

Do mesmo modo, quando as orações são perdidas, nos sentimos culpados: "Eu não tenho feito como deveria fazer. " E então a oração se torna, ao longo da vida, uma conversa com o próprio eu, mas não com Deus. 

Às vezes queremos algo, e assim que nos lembramos de que há um Deus,  resolvemos fazer um acordo com ele. Dizemos então  certas fórmulas e esperamos que Deus se senta obrigado a nos dar o que pedimos.

Se é algo que nos realmente queremos e nós não temos certeza de que Ele  vai se sentir obrigado o suficiente a nos atender, acabamos por aumentar nosso apelo, recitando algumas orações e leituras extras,  fazendo um pouco mais para conseguir algo um pouco maior....

Assim, nós estamos tentamos manipular a Deus da mesma maneira que um cão tenta manipular seu dono ao barganhar por um biscoito extra ou dois, fazendo um truque extra.

O único problema com isso é que Deus não morreu na Cruz a fim de adquirir um animal de estimação para si mesmo. 

A oração não é uma fórmula para manipular Deus para que Ele venha fazer algo para nós, nem é uma obrigação que foi imposta a  nós para que a cumpríssemos

Deus sabe o que precisamos para a nossa salvação muito melhor do que nós, e Ele nos livrou de toda a escravidão, incluindo nisso os encargos e as obrigações da lei.

No entanto, vemos que os santos, tanto do Antigo e o Novo Testamento oravam a Deus, o próprio Cristo passou muito tempo em oração, e a Igreja nos ensina a fazer o mesmo.

Por que a oração é tão importante? 

Da mesma forma que não podemos manipular a Deus, Ele não quer nos manipular. Ele quer que nós entremos em comunhão com Ele, e Ele quer viver em nós (Gl 2:20),e nós a viver para Ele (2 Coríntios. 5:15) e com Ele (Rom. 6:8), "o Filho de Deus se fez homem para que nos tornássemos Deus "(Santo Atanásio, De Incarnatione Verbi Dei 54).

Ele quer os nossos corações, não as nossas manobras destinadas a obtenção de alguns poucos biscoitos extras. Ele precisa de nós para sermos co-obreiros com Ele na tarefa da nossa salvação (1 Coríntios. 3:9).

Ele quer dar-nos vida em abundância (Jo 10:10), mas Ele precisa de nós para vivê-la.

E o sopro da vida em Deus é a oração. 

A oração é a comunhão da Pessoa de Deus com o pessoa do homem, e sem a nossa participação, a presente comunhão torna-se impossível.

Assim como um estreito relacionamento entre duas pessoas é impossível quando não se dá o mesmo com os dois, de forma que só um dos dois está interessado em trocar cartões de Natal... Uma vida com Deus também é impossível quando Ele nos dá tudo de Si mesmo, mas estamos apenas interessados em dar-lhe alguns minutos de recitações a cada dia.

A oração não é o que está escrito em uma página de um livro, mas sim aquilo que  está escrito em nossos corações. Talvez por isso,  a oração mais comum e mais significativa tem sido sempre a mais simples, a oração de Jesus: "Senhor, Jesus Cristo, Filho de Deus,tem misericórdia de mim, pecador. " 

A oração não é uma recitação insensata de símbolos impressos, mas sim a devoção vinda da mente e do coração.

Quando lemos ou ouvimos sobre a oração da mente que penetra no coração, nós somos confrontados com a rejeição de uma ação puramente mecânica de recitação de palavras. Nos entendemos como inaceitável oferecer  uma mera e descuidada recitação de palavras quando conversamos com  nossos amigos e entes queridos, mas ousamos oferecer isso a Deus, dia após dia? 

A experiência dos Hesicatas Athonitas mostra que através da oração entramos em comunhão com as próprias energias incriada de Deus, ou a forma direta que Deus relaciona com o mundo e atua nele, não criada através de mediadores, mas sim  em um relacionamento diretamente conosco.

E é a nossa resposta que faz com que esta relação seja possível.

Olhe para as orações que a Igreja oferece à nós, como as regras de manhã e à noite. Preste muita atenção 

às palavras. Eles foram compostas por pessoas cujos corações estavam em chamas de amor por Deus, que responderam a Deus pelo dom da vida recebido, dando suas próprias vidas para Deus.

Sua orações não nos são oferecidas para a recitação, mas sim para ser o guia dos nossos corações e vidas, na mesma direção, no passos dos Padres. Devemos tomar estas palavras escritas por outras pessoas e torná-las nossas, advindas diretamente de nossos corações. 

Mas isso ainda não é a vida de oração. Se a oração é o fôlego da vida, então é impossível viver só respirando por alguns minutos, duas vezes por dia. O Apóstolo Paulo nos instrui a "Orai sem cessar" (1 Tessalonicenses 5:17.). Muitos têm dito que tal coisa é impossível: como se pode fazer qualquer coisa sem cessar?

Mas nós não respiramos sem cessar?

Os santos que dedicaram suas vidas a Deus, acharam não só que era possível orar sem cessar, mas que aoração incessante é o único meio que  torna a vida em Deus possível.

O quanto mais deixemos que nossa alma respire a oração,  mais vivos em Deus nos tornaremos. 

Talvez nós não tenhamos como dedicar as nossas vidas a solidão e a contemplação, como fazem os hesicastas Athonitas. Mas nós podemos e devemos fazer da oração tanto um estado do nosso ser quanto a  forma ativa da vida em Deus.

Nós não temos que estudar as obras de São Gregório Palamas para  sermos capazes de dizer a simples oração de Jesus( "Senhor, Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade em mim, pecador ") em cada parte de tudo o que fazemos ao longo do dia. Nós podemos sim aplicar um esforço sincero para ter mais atenção a cada palavra de nossas preces matinais e a noite, para torná-las nossas,e assim buscar fazer delas o  padrão de nossa própria vida espiritual , em cima do modelo que nos foi oferecido pelos Santos Padres. 

A respirar da oração é tão vital para a vida espiritual como o respirar o ar é vital para a vida física.

Mas assim como uma doença física leva tempo e esforço para ser curada, a doença espiritual causada pela falta de oração também levar tempo e esforço para ser erradicada. É por isso que se faz tão importante  começar imediatamente, não hoje à noite ou amanhã, mas agora.

Quando o eunuco etíope aprendeu a respeito de Cristo, exclamou a Felipe: "Eis aqui a água! O que impede que eu seja batizado? "(Atos 8:36)  Então, o que nos impede de tomar o fôlego da vida neste  exato momento? 

"Se você acreditar com todo seu coração, você pode ".