
Cristo ressuscitou!
Durante toda a Semana Luminosa vivemos na alegria pascal do Salvador ressuscitado, e a nossa alegria, assim como a dos santos apóstolos, foi misturada por uma confusão de sentimentos.
Afinal,não faz muito tempo , nós estávamos lembrando da morte daquele que é a Fonte da vida, mas agora nós nos alegramos, pois fomos restaurados para a vida por Ele.
Assim como os santos apóstolos fizeram durante os primeiros dias após a ressurreição, nos vividamente lembramos das paixões de Cristo durante a leitura dos 12 Evangelhos: a morte do Senhor e a retirada do Seu corpo da Cruz, o Seu sepultamento , para nós simbolizados quando carregamos o Sudário e fazemos a procissão ao redor da igreja, até as longas horas de espera em jejum total e oração, até o milagre no sábado da Grande Quietude.
Já nos primeiros momentos daquela manhã no dia do Ressurreição, a boa notícia foi sendo propagada para toda a criação, tanto pelos anjos do céu (Marcos 16:06) quanto pelas santas miróforas na terra (Lucas 24:9) e até mesmo pelos guardas do Sinédrio (Mateus 28:11) que já haviam falado sobre o milagre.
Contudo, ainda assim os apóstolos estavam em um estado de medo e dúvida, escondendo-se por trás de portas "por medo dos judeus" (João 20:19).
A dúvida dos discípulos não deve nos surpreender, pois eles afinal eram testemunhas do maior milagre da história da criação: O homem matou Deus, e Ele ressuscitou dos mortos e salvou a raça humana das garras do inferno.
Os discípulos de Cristo, depois da detenção do Mestre, esqueceram todas as Suas profecias sobre as coisas que estariam por vir.
E é por isso que eles não acreditaram de pronto na milagrosa história registrada pelas Santas Miróforas (Marcos 16:11, Lucas 24:11), e mesmo enquanto conversavam com o Ressuscitado face a face, eles hesitavam em confiar em seus próprios corações (Lucas 24:25), que estavam a arder e tremer na presença de Deus (Lucas 24:32).
Esta maravilhosa descrença (Lucas 24:41), advinda da fraqueza humana , incapaz de abarcar a magnitude do milagre que teve lugar, reflete-se nas famosas palavras do apóstolo Tomé: "Se eu não vir o sinal dos pregos nas mãos e colocar o meu dedo onde estavam os pregos, e por a minha mão no seu lado, eu não vou acreditar. "(João 20:25)
Muitas vezes as pessoas referem-se a Tomé como aquele que "duvidou", sem realmente considerar a profundidade e a dimensão da "dúvida" deste santo apóstolo.
Mas vamos agora olhar mais cuidadosamente para este homem.
Pois então, podemos pensar que a sua dúvida era a mesma que a dos judeus que gritavam : "desça agora da cruz, e acreditaremos "(Mateus 27:42).
E assim, podemos especular se essa dúvida não seria semelhante a aquela que ouvimos proferida pelos nossos contemporâneos, quando esses dizem : "Se Deus existe, que Ele se mostre a todos, e vamos então passar a crer nEle "?
Os antigos escribas e fariseus sabiam de todos os milagres de Cristo e, ao que parece, sabia Quem Jesus da Galiléia Era realmente.
Mas cada vez que eles eram confrontados com Divino, eles se tornavam ainda mais enraizados na blasfêmia.
Quando descobriram que Cristo curou um cego de nascença, em vez de levantar louvores, eles vomitavam maldições: "Este homem é um pecador (João 9:24), e Tu és nascido todo em pecados "(João 9:34).
Tendo ouvido que Cristo tinha ressuscitado um homem morto já ha quatro dias, (um homem que apresentava os odores da putrefação), algo que aparentemente não deixaria mais qualquer dúvidas sobre divindade de Cristo, os anciãos da nação decidiram " matem Lázaro também "(João 12:10).
Finalmente, depois de terem sido confrontados com o fato da Ressurreição milagrosa de Cristo, e tendo ouvido as testemunhas oculares dos guardas (Mateus 28:11), que tinham caído no chão tremendo na presença de um anjo brilhante (Mateus 28:4), os anciãos subornaram os soldados e buscaram enganar o povo (Mateus 28:12-14), tornando cada vez maior a sua blasfêmia.
Os Fariseus modernos também só aprofundam as suas blasfêmias, estando novamente face a face com o Ressuscitado e ainda não são convencidos, mesmo diante dos Seus tantos milagres?
Mas o caso é que São Tomé não é um desses fariseus.
Nós sabemos sobre a sua fidelidade e amor sacrificial pelo seu Mestre.
Pois sabemos, que depois de seguir o Salvador por três anos, Tomé compreendia muito bem as consequências, os perigos de Cristo enfrentar os escribas e os fariseus.
Os outros discípulos também compreendiam muito bem tal perigo, e é por isso que quando o Salvador decidiu ir para a Jerusalém, os apóstolos tentaram falar com Ele sobre isso, buscando O alertar para o perigo (João 11:8).
Mas foi São Tomé, que disse: "Vamos nós também, para que possamos morrer com Ele "(João 11:16). Nós não vamos ouvir tais palavras de um descrente !
Após a Ascensão do Salvador, o Apóstolo Tomé, de acordo com a Tradição da Igreja, foi pregar o Evangelho em um dos mais distantes e difíceis lugares do mundo antigo, a Índia, onde foi torturado e morto por Cristo.
Mas naquele dia, uma semana depois da Ressurreição, quando o Salvador veio aos Seus discípulos e Tomé estava com eles, ao Santo Apóstolo foi necessário apenas um toque para que este discípulo que amava tão abnegadamente o seu Mestre percebesse a quem tinha dedicado a sua vida : "Meu Senhor e meu Deus ", exclamou Tomé, que apenas um minuto antes era compreensivelmente cético sobre os relatos dos seus irmãos.
"Meu Senhor e meu Deus", exclamou Tomé do fundo do seu coração amoroso !
Pois uma pessoa como Tomé, Deus vem, e a este tipo de pessoa, Ele permite mesmo que O toque !
Em seu desejo de salvar as pessoas, Cristo sofreu tudo: zombarias e açoites, a tortura e a morte vergonhosa, e mesmo que cutucassem as suas feridas com os dedos após Sua ressurreição gloriosa. Pois se Ele é aguardado, Cristo chega mesmo através de portas fechadas (João 20:26).
Mas o que Ele ouvirá ao adentrar em nossos corações? Ele vai ouvir de nós as palavras "meu Senhor e meu Deus" ou ele vai apenas receber zombaria e açoites?
Será que vamos adorá-Lo, como fez São Tomé, ou vamos crucificá-Lo com nossa falta de arrependimento e lançaremos as pedras dos nossos tantos pecados Nele ?
Ó Senhor, pelas orações do Santo Apóstolo Tomé, nos dê fé e nos ajude a nossa incredulidade (Marcos 9:24)!
Amem.
Reverendo Presbítero Sergei Sveshnikov.
Fonte : http://frsergei.wordpress.com
| ![]() |
|